sábado, 18 de fevereiro de 2012

Uma perspectiva pela sociologia da educação


    E porque não hoje ser diferente e em vez de maquilhagem e moda não falar de algo que é tão presente no nosso dia-a-dia, pois bem aqui fica uma perspectiva sobre a sociologia da educação. Um trabalho que fiz na faculdade e que acho bastante interessante espero que também o achem....

     "Em Portugal, como nas sociedades modernas, a escola é constituída como um direito público resultante do estado democrático em que vivemos. O mesmo se verifica ao nível do ensino superior: com o fenómeno da democratização, este ficou acessível a qualquer indivíduo que preencha os requisitos, e menos influenciado pela origem social. Desta forma, o sistema de ensino já não se afigura como elitista, não representando assim um factor de ordenação social tão frisado como na década de 60 identificou A. Sedas Nunes (Nunes, 1970). 
   Como se encontra referido no livro Perfil dos estudantes do Ensino Superior: Desigualdades e diferenciação (Balsa et al), de acordo com Frank Parkin, no seguimento da tradição weberiana, os mecanismos de fechamento social são definidas por grupos minoritários de pessoas que têm o poder de controlar o acesso a determinados recursos. Estes mecanismos têm o objectivo de garantir que a posse dos recursos que distinguem as camadas sociais mais favorecidas é assegurada com a passagem de geração em geração. Uma manifestação deste fenómeno decorre (embora bastante dissimulada) no sistema interno do ensino superior. Verifica-se que determinados cursos e instituições de ensino, que são considerados como sendo os mais prestigiados, têm tendência a ser mais ocupados por alunos provenientes de classes sociais mais favorecidas.
            Segundo Bourdieu, “as famílias são corpos (corporate bodies) animados (…) por uma tendência para perpetuarem o seu ser social, com todos os seus poderes e os seus privilégios, tendência que é a origem das estratégias de reprodução, estratégias sucessórias, estratégias matrimoniais e sobretudo estratégias educativas.” (Bourdieu, 2001:21). De facto, as classes dominantes vão procurar transmitir aos seus descendentes capitais reconhecidos – capital social, capital cultural, capital económico – para assim perpetuar o referido distanciamento entre classes geração após geração. Também as classes dominadas vão tentar transmitir aos seus descendentes mecanismos que lhes permitam atingir esses mesmos capitais – em alguns casos, procuram investir com muito esforço uma grande parte do seu capital económico para que os seus descendentes possam gerar outros tipos de capital, por exemplo. Seguindo a ideia de Bourdieu (Campenhoudt, 2003: 163-164), podemos definir capital económico como o conjunto dos bens e recursos económicos (por exemplo, o rendimento profissional e os  patrimónios mobiliário e imobiliário); por sua vez, o capital social será definido pelo conjunto de relações sociais à disposição de um indivíduo, as quais pode mobilizar quando disso sentir necessidade; por fim, o capital cultural será o conjunto de recursos intelectuais e culturais adquiridos quer através da educação familiar e escolar, quer dos suportes materiais destes recursos (por exemplo, livros).(...)

(...)as classes vão procurar transmitir estes capitais aos seus descendentes que os vão incorporar no seu habitus.
O habitus pode ser definido como as estruturas sociais da nossa subjectividade, que se constituem desde que nascemos e temos as nossas primeiras experiências (habitus primário), até atingirmos a nossa vida adulta (habitus secundário). É a forma como interiorizamos as estruturas sociais e as estruturamos na nossa mente e no nosso corpo, pela interiorização da exterioridade (Corcuff, 2001:40-41). Bourdieu definiu habitus como um “sistema de disposições duráveis transponíveis”. Por disposições entende “propensões para perceber, sentir, fazer e pensar de uma certa maneira, interiorizadas e incorporadas, a maior parte das vezes de forma não consciente, por cada indivíduo, em resultado das suas condições objectivas de existência e da sua trajectória social”; afirma que estas são duráveis na medida em que “se essas disposições podem modificar-se no decurso das nossas experiências, elas estão fortemente enraizadas em nós e tendem por esse facto a resistir à mudança, revelando assim uma certa continuidade na vida de uma pessoa.”; além de duráveis, as disposições serão também transponíveis porque “as disposições adquiridas no decurso de determinadas experiências (familiares, por ex.) têm efeitos sobre outras esferas de experiências (profissionais, por ex.); são um primeiro elemento da unidade da pessoa”; por fim considera tudo isto com um sistema pois estas disposições estão profundamente interligadas entre si. (Corcuff, 2001:40)(...)

Com isto, surge a seguinte questão: onde o habitus vai ser exteriorizado e reproduzido?

Seguindo o pensamento de Bourdieu (Corcuff, 2001:41-42), vai ser exteriorizado nos campos. No nosso estudo, consideramos o sistema do ensino superior um campo. Sendo um campo definido como “a face da exteriorização da interioridade do processo”, podemos dizer que é uma parte da vida social que se definiu ao longo da história através das relações sociais que o distinguem dos restantes campos. Desta forma, nos vários campos, os actores sociais vão ser estimulados por diferentes motivos. A fronteira do campo define quem tem permissão para nele estar inserido; no caso do ensino superior, estas fronteiras são caracterizadas por elementos como a exigência do 12.º ano completo, da média mínima para ingresso, entre outros. (...)

Existe uma luta bastante intensa no campo do sistema de ensino superior porque certas posições escolares, sobretudo as mais restritas, podem criar influência noutros campos, como acabámos de referir. Surge assim a noção de Bourdieu de campo de poder (Corcuff, 2001:43) como um espaço no qual interagem os dominantes dos diferentes campos, com diferentes capitais. É “um campo de lutas pelo poder entre os detentores dos diferentes poderes”. Não é um campo como os outros, aqui as lutas são travadas pelos elementos dominantes dos diferentes campos que detêm uma fracção bastante significativa de qualquer um dos tipos de capital (e são dominantes por essa mesma razão). Há quase uma espécie de “taxa de câmbio” entre os diferentes capitais para medir as forças destes elementos. Um dos campos mais influentes no campo de poder é o do sistema de ensino superior.
Hoje em dia, este campo tem uma influência muito significativa em vários domínios da sociedade (emprego, prestígio social, etc.), o que vai motivar as ditas lutas pela posse desta influência.  Bourdieu foca-se também no conceito de Reprodução Cultural, com este conceito refere a escola juntamente com outras instituições uma vez que contribuem para as desigualdades económicas e sociais ao longo das gerações.
Enquanto Pierre Bourdieu conjuntamente com J. C. Passeron vêem a escola/ educação como a reprodução em si mesma e o papel que a escola tem nessa reprodução,  sendo que o sistema educativo contribui para a estabilidade da transmissão de posições sociais de uma geração para outra. Transformando desigualdades sociais em desigualdades educativas como é referido pelos autores. Os autores partem também de uma perspectiva culturalista confrontando a socialização familiar com a socialização escolar. No que diz respeito a Émile Durkheim, este tem uma abordagem funcionalista da realidade, mas em relação à sociologia da educação, este não se revela tanto funcionalista. Desenvolvendo estados físicos e mentais nas crianças e jovens, estados que são necessários, quer a todos os membros da sociedade, quer a grupos, desenvolvendo uma perspectiva histórica sobre a educação, uma vez que esta não é tanto funcionalista na perspectiva de Durkheim. Na sua obra “Educação e Sociologia” destaca o papel da educação, considerando-a do ponto de vista sociológico, como reguladora da vida social. A educação para Durkheim, expressa uma doutrina pedagógica, a qual se apoia na concepção do homem e da sociedade. A educação surge através da família, igreja, escola e comunidade. Para Durkheim, os conteúdos da educação são independentes das vontades indivíduais.
No livro “Educação e Sociologia “, Émile Durkheim aborda a educação como um facto social. A educação é diferecnicadora de sociedade para sociedade, mas mesmo nas sociedades em que a educação e igualitária “tende a eliminar as diferenças injustas, a educação varia e deve necessáriamente variar, segundo as profissões”. A educação é um modo de socialização, um modo de preparação para a própria existência das crianças, sendo que em cada sociedade há uma educação que é própria e que pode servir para a definir, a educação, é assim, um modo de socializar a criança ao seu meio. Na concepção durkheimiana (também chamada de fucionalista), as consciências individuais são formadas pela sociedade. Ela é oposta ao idealismo, de acordo com o qual a sociedade é moldada pelo “espírito” ou pela consciêmcia humana. “A construção do ser social, feita em boa partde pela educação, é a assimilação pelo indivíduo de uma série de normas e principios – sejam morais, religiosos, éticos ou de comportamento – que baliza a conduta do indivíduo num grupo. O homem, mais do que formador da sociedade, é um produtor dela” escreveu Durkheim.
A socialização surge, assim, como um processo pelo qual o grupo transmite aos seus membros os traços culturais que o identificam e, simultaneamente, como o processo pelo qual o indivíduo realiza a interiorização e assimilação dessa identidade,  ou seja, sem a educaçao o homem não seria um ser civilizado. Durkheim refere que a socialização é essencialmente moral e lógica, os traços comuns sao assegurados pela escola numa sociedade moderna enquanto que na sociedade pré- moderna era assegurada pela religião, estando a perder peso para a escola que começa a ser muito mais valorizada. A escolarização básica é muito importante para a criança, uma vez que Durkheim refere que o facto de não se frequentar a escola é diferenciador, o ensino superior foi também desenvolvido. 
Quando nasce, a criança é apenas um organismo biológico, preocupada com o seu bem- estar físico. A criança ao nascer é, ainda, um ser culturalmente em branco, uma tábua rasa de valores, normas, comportamentos... que à medida que vai tomando contacto com o ambiente grupal que a rodeia, a criança torna-se, um ser cultural. Gradualmente, a criança vai assimilando valores e normas, adaptando atitudes e comportamentos, aprendendo técnicas e práticas, ultrapassando a sua fase biológica. A criança só conhece o dever através dos seus pais e mestres, que lhe ensina os comportamentos, normas e valores correctos. (...)

A educação é uma socialização da criança, um sistema de educação prepara o indivíduo para a vida social, forma o cidadão. Os professores, como parte responsável pelo desenvolvimento dos individuos, têm um papel determinante e delicado, uma vez que os professores fazer parte da socialização secundária e são importantes ao desenvolvimento das crianças.
A educação difere conforme os tempos e as regiões, a educação numa sociedade antiga é diferente da educação que hoje é dada nas nossas sociedades, a educação é diferente de região para região, por exemplo, nas cidades Gregas e Latinas, a educação é mais virada para que o individuo se prepare para ser a “coisa da sociedade”, enquanto que na Idade Média, a educação era antes de mais cristã." (...)







Bibliografia

  •        Giddens, Anthony, (2004), Sociologia. Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian


  •   Balsa, Casimiro Marques et al (2001), Perfil dos estudantes do Ensino Superior: Desigualdades e diferenciação. Lisboa: Edições Colibri


  •   Campenhoudt, Luc Van; Quivy, Raymond, (2005) Manual de Investigação em Ciências  Sociais. Lisboa: Gradiva


  •     Nunes, Adérito Sedas, (1968), “A população universitária: Uma análise preliminar”, Análise Social, 22/23/24, 295-385


  •     Machado, Fernando Luís; Costa, António Firmino da; Mauritti, Rosário; Martins, Susana da Cruz; Casanova, José Luís; Almeida, João Ferreira de, (2003), "Classes sociais e estudantes universitários: Origens, oportunidades e orientações", Revista Crítica em Ciências Sociais, n.º66, 45-80

  •       Corcuff, Philippe, (2001), As Novas Sociologias. A realidade social em construção. Sintra: VRAL, Lda.


  •        Durkheim, Émile, (2007), Educação e Sociologia. Lisboa: Edições 70








 

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